domingo, abril 20, 2025

Especialista faz análise do mercado de commodities, com destaque para a maior alta do dólar em três anos

A abordagem é feita por Filipe Soares, especialista em comércio internacional de commodities

DÓLAR

O dólar foi novamente o destaque fechando ontem em R$ 5,76, maior alta dos últimos 3 anos. O primeiro fator é internacional e por conta das eleições americanas; Trump avança nas pesquisas e empata com Kamala Harris tecnicamente nos Estados Unidos. Dessa forma, como o mercado gosta mais dos planos de governo do Trump, que defende cortes mais fortes de impostos americanos e aumentos nas taxas de importação, o que fomentaria ainda mais as indústrias americanas. Além disso, o Tesouro Americano é o investimento mais seguro do mundo e, assim, se os juros americanos sobem, os investidores tiram dinheiro de outros investimentos e vão para o Tesouro Americano. Dessa forma, a expectativa internacional é que os juros americanos também podem subir.

O outro grande fator que também compõe grande parte da alta do dólar é o governo brasileiro. O mercado ainda não acredita que o Brasil irá conseguir cumprir o teto de gastos, e após declarações do presidente Lula e Haddad nos últimos dias, a moeda subiu muito. Mas ontem, Haddad apareceu novamente e tentou acalmar a situação dizendo que irá enviar uma PEC ao Congresso para que os gastos obrigatórios do governo caibam no arcabouço fiscal e que seja cumprido o teto de gastos.

O grande ponto é que o dólar é muito imprevisível. Cada dia o governo brasileiro fala ou faz alguma coisa que acalma ou estressa o mercado financeiro, e internacionalmente é a mesma coisa. Diariamente surgem novidades positivas ou negativas para o dólar que são impossíveis de prever.

Mas o que devemos levar de lição é que, se o dólar está alto, é um momento bom para vender soja e milho; porém, para comprar, não é o momento ideal.


SOJA

Já a soja subiu 1% na Bolsa de Chicago, com o contrato de novembro fechando em $9,90 por bushel devido a uma pressão no óleo de soja, que subiu 2,3%. O óleo de soja subiu forte, puxado por alguns fatores: em primeiro lugar, a alta do petróleo. Como o óleo de soja é usado também para produção de combustíveis, toda variação do petróleo reflete diretamente no óleo de soja, que, por ser derivado, reflete na soja.

O petróleo subiu por conta dos estoques americanos, onde o mercado acreditava que seria maior, porém veio abaixo das expectativas. Mas também houve outros fatores que fizeram o óleo subir, como as mudanças nos regulamentos de embarque de grãos e derivados para a China. A China pediu uma mudança nas inspeções para importação de grãos, e os exportadores brasileiros imaginam que essas mudanças podem atrasar embarques ou até bloquear alguns. Esse medo de demora para o embarque e bloqueios também refletiu na China, o que aumentou a venda de óleo e farelo por lá nessa semana. Porém, na visão da Agroares, o mercado brasileiro já está se adequando e não deve causar comprometimentos a longo prazo.

No entanto, a soja segue sem fundamentos fortes para trazê-la acima dos $10 por bushel no curto prazo. A soja vem sendo sustentada pela alta do petróleo ou de fatores fracos, como essa mudança nos embarques, por exemplo. O que realmente pesa sobre a soja é a grande produção americana e a possível produção recorde no Brasil.

Nas próximas semanas, o que deve mandar no preço da soja em Chicago será o clima brasileiro; durante todo o plantio podemos ter picos nos preços e ver oportunidades para vender a soja dessa safra nova.

Agora falando de soja disponível, está muito comum ver sacas no Mato Grosso de até R$150,00, e eu quero que você entenda o porquê disso. Essa saca de soja tão cara nesse momento não quer dizer que assim será os preços para essa safra. A situação foi que o Brasil exportou muita soja esse ano e faltou para o mercado interno, e nesse momento o mercado de óleo passa por uma grande dificuldade, pois as esmagadoras não encontram soja disponível; quando encontram, estão caras ou com qualidade ruim, e as indústrias de biodiesel precisam do óleo de soja para produzir combustíveis no fim de ano, que é o momento de maior produção.

Esse fator tem feito a soja se valorizar muito no mercado interno, mas repito: no mercado interno. Assim que começar a colheita de soja dessa safra nova, os preços que serão utilizados serão os de paridade internacional, com base na Bolsa de Chicago, que hoje trabalha em $9 por bushel e em julho trabalhava em $12,00 por bushel. Por isso, você, produtor, não se iluda e deixe de aproveitar os momentos que podem surgir por conta dos preços atuais. Assim que surgir soja no mercado, essa valorização interna somente irá acabar, e dependeremos apenas de Chicago, que está desvalorizado e dólar. Já estamos vendo sacas negociadas no Mato Grosso para entrega futura a R$107,00.

No próximo ano, também pode acontecer a mesma situação: quase toda soja ser exportada e faltar soja no mercado interno para óleo no segundo semestre, quando aparecem vários consultores dizendo que avisaram que a soja iria subir. Que ela irá subir todos nós sabemos, só não sabemos quando. Aí deixo a pergunta: o produtor brasileiro consegue colher a soja em março e não vender nada até novembro? Quem irá pagar os boletos e os custos do plantio? Se for assim, é mole dizer que a soja sobe no fim do ano. Nosso trabalho é dizer o momento de vender bem na hora em que o produtor precisa pagar as contas.


MILHO

O mercado do milho vem aquecido, como nós já vínhamos falando desde o início de 2024. Porém, é uma recuperação lenta de preços.

Durante nosso período de exportação de milho, a China se mostrou bem ausente nas compras e, dessa forma, exportamos menos milho que o ano passado. Porém, o mercado interno vem ajudando muito com a alta do boi gordo, que vem gerando margens melhores para rações, indústrias de etanol comprando em boas quantidades, e principalmente preocupações com a oferta de milho no ano que vem.

Como no início desse ano o preço do milho esteve tão desvalorizado, produtores venderam milho a R$38 a saca no MT. A possibilidade de alguns produtores mudarem para outras culturas no ano que vem se tornou bem forte, o que vem se confirmando nos últimos relatórios. Além disso, também haverá forte diminuição no plantio argentino de milho, está acontecendo quebras nas safras de milho da Ucrânia, que é um grande competidor quando falamos de preço, e principalmente o atraso do plantio da soja deve impactar diretamente o plantio do milho safrinha.

Dessa forma, o milho segue com vários aspectos positivos para continuar subindo, mas nada tão absurdo. Porém, se mostra forte e com uma recuperação lenta nos preços. Em primeiro lugar, a nossa indicação é: deu margem, trave os custos; após isso, deixe grão para negociar.

O que mais falha aos produtores e empresas do agro não são preços baixos, e sim as especulações de achar que vai subir ou cair. Não podemos colocar nosso patrimônio em uma roleta russa. Segurança e margem de lucro são essenciais antes de falarmos de qualquer valor por saca de milho ou soja. (Filipe Soares)

Foto: Freepik

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