Prejuízos na maior região produtora do Brasil chega a R$ 55 milhões
O prejuízo é crescente e alarmante. Produtores da região noroeste do Paraná vivem uma situação nunca antes vista no estado, aplicação maciça de agrotóxicos e deixando de lado todas as boas práticas. Os sericicultores já nem sabem mais de onde vem o veneno, se do céu nas aplicações aéreas ou nas terrestres, o fato é que para quem vive da produção do bicho-da-seda, as perdas são recorrentes.
“Meu prejuízo desta semana foi de 3 mil reais, há 15 dias foram mais de 5 mil reais, tudo causado pela deriva do agrotóxico, os dois últimos anos foram críticos para sericicultura. Não se respeita, como são produtores maiores, acreditam que a lei está do lado deles, muita gente já deixou a atividade, e o forte aqui é o bicho-da-seda, onde garantimos renda mesmo em pequenas áreas” – disse o sericicultor Claudio Finco.
Nas últimas duas safras, mais de 500 famílias vulneráveis no campo abandonaram a atividade em virtude dos prejuízos decorrentes da deriva causada por aplicação irregular de agrotóxicos nas culturas vizinhas. Foram mais de mil denúncias de perda total por intoxicação formalizadas aos órgãos fiscalizadores. O Plano de Ações Integradas de Combate à Deriva de Agrotóxicos da SEAB – Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, está em vigor desde maio/2021, e mesmo assim os prejuízos para a economia do estado decorrente da perda dos sericicultores acumulam mais de R$55 milhões – com base na quantidade de produção de casulos verdes que deixou de ser comercializada exclusivamente por causa da intoxicação. Tudo o que foi investido na propriedade para a criação do bicho da seda foi perdido.
Com dois alqueires de amora, Dirceu Zaninello trabalha com a esposa, ele conta que é toda renda da família, “Cada vez aumenta mais, esse veneno está fora de controle, e eu nem tenho vizinhos próximos, eles moram de a 2 a 5 km de distância, mas com a deriva o veneno chega na minha propriedade e mata tudo. Tem veneno na mandioca, na laranja, na cana e daqui a pouco vem o da soja e do milho. Antes dava problema em quem tinha propriedade do lado das aplicações, agora todo mundo reclama” – constata.
Os sericicultores da região noroeste do estado fizeram manifestação nesta segunda-feira (23) em Nova Esperança, conhecida no Brasil como capital da seda. O encontro foi organizado pela Associação dos Criadores do Bicho da Seda de Nova Esperança, Alto Paraná e Regiões (ACESP), além da Associação Comercial e Empresarial e a Prefeitura da cidade.
“O sericicultor vem enfrentando desde 2021 o grave problema do agrotóxico, mas as últimas safras, de 2022 e 2023 a perda foi praticamente total, agravou muito, em abril montamos um grupo e estamos trabalhando com as autoridades, nós conseguimos que a lei ampliasse e proibisse a pulverização aérea, mas só a lei não basta. Infelizmente não tem fiscalização suficiente, e as regras não são cumpridas, chega um avião e passa o veneno até terminar, não importa o horário, o vento” – lembra a presidente da associação dos criadores, Sandra Manieri.
A criação do bicho da seda atende as principais estratégias do governo, já que é uma atividade produtiva sustentável, com garantia de compra do produto agrícola pela indústria, alto valor bruto de produção, e gera mais de 1.000 empregos diretos, além de desenvolver o comércio nos 221 municípios em que está presente no estado do Paraná, e consegue conter ainda o êxodo rural por atender as pequenas propriedades com renda satisfatória, que nem uma outra cultura hoje oferece.
A produção de bicho-da-seda é considerada um agente de transformação econômica e social, principalmente nos municípios de baixo IDH do Paraná. Sendo ainda uma cultura de preservação ambiental, já que é 100% orgânica, tendo certificação internacional USDA/NOP, e sustentando mais de 1.500 famílias no campo. Atualmente, remunera mensalmente o valor de dez mil reais por alqueire de amoreira plantada, ao longo de 11 meses – durante a safra, tem um potencial de receita bruta de R$ 110.000,00 por família.
Impactos também na Indústria
Na contramão desta situação, o mercado internacional consumidor dos fios de seda brasileiros aumentou significativamente a sua demanda, e a indústria nacional de fiação de seda conquistou maior valor agregado com o reconhecimento de melhor qualidade do mundo e maior sustentabilidade (conforme Relatório da Universidade de Cambridge, UK, em Impacts on Biodiversity at Hermès Silk Supply Chain). O que abre possibilidade para novas áreas de produção dentro da agricultura familiar, com garantia de compra da produção, em um dos melhores momentos de mercado.
A Indústria de Fiação de Seda Bratac tem hoje a capacidade anual de compra de mais de 9 mil toneladas de casulos verdes por ano, para produção de 1.400 toneladas de fios de seda para exportação e demais subprodutos da seda para os segmentos de moda, biomateriais, alimentos, medicina e cosmética. Diante da restrição de matéria-prima (casulos do bicho da seda) a perspectiva de exportação em 2023 será de meras 300 toneladas de fios de seda, com um impacto negativo de R$ 550 milhões em produto final não produzido, e mais de 1.300 postos de trabalho reduzidos pela ociosidade dentro das fábricas.
“Tenho três alqueires de amora, e como a área é pequena, nenhuma outra cultura dá hoje o retorno do bicho-da-seda, quando dá tudo certo a gente consegue tirar de 10 a 12 mil reais no mês. Mas o veneno tem judiado da gente, não sei como vamos sobreviver” – lamentou Severino Ribeiro de Souza, que está na atividade a quase 40 anos. (Divulgação/ texto e foto)