O fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico na faixa equatorial, está plenamente configurado e em seu pico de intensidade. O desenvolvimento do El Niño iniciou ainda entre fevereiro e março de 2023, quando começaram a ser observados desvios muito positivos de temperatura na superfície do mar nas áreas costeiras do Peru e do Equador. No decorrer do outono de 2023, o aquecimento seguiu para outras áreas do Pacífico equatorial, até o El Niño se configurar de fato.
A expectativa é que ele continue enfraquecendo no início do outono de 2024, passando para uma fase neutra ao longo da estação. Neste ponto, vários modelos de previsão de longo prazo indicam que o resfriamento de porções mais a leste do Pacífico equatorial (as chamadas regiões 1 + 2 e 3 do Niño) já começa em abril, e se propaga pelas demais regiões até próximo do fim do outono astronômico, no dia 21 de junho. Em sua última projeção, o IRI/CPC indica probabilidade de 73% de fase neutra entre os meses de abril e junho.
Hoje, temos este cenário como o mais provável: o outono começa com El Niño fraco e termina com neutralidade. Mas esta projeção requer acompanhamento, pois ocorre numa época em que a previsibilidade cai – a chamada “Spring Barrier” (em português, barreira da primavera), em referência a uma queda na acurácia de previsões feitas durante estações de transição, especificamente a primavera do Hemisfério Norte.
Vários modelos de mais longo prazo sugerem a instalação da fase oposta do El Niño, a La Niña, durante o inverno de 2024, e esta seguiria sendo a condição até o próximo verão, entre 2024 e 2025. Na projeção mais recente do IRI/CPC, a probabilidade de instalação da La Niña já é superior a 50% no trimestre julho/agosto/setembro. O histórico de dados nos dá respaldo para sustentar essa possibilidade, cada vez mais provável, já que em vários anos anteriores houve alternância entre El Niño forte e La Niña.
O que é La Niña e quais seus principais efeitos?
A La Niña é um fenômeno caracterizado pelo resfriamento anômalo das águas do Oceano Pacífico na faixa equatorial, o oposto do que ocorre com o El Niño. Da mesma forma deste, a La Niña mexe com toda a circulação atmosférica no mundo todo.
No Brasil, as chuvas tendem a ficar mais volumosas que o normal no Norte e no Nordeste, e o tempo fica mais seco em amplas áreas do Centro-Sul do país, especialmente o Sul, que fica mais vulnerável a eventos de seca, que traz déficit hídrico no solo e acaba prejudicando algumas culturas.
Com relação às temperaturas, em geral, se associa condições de tempo mais ameno e frio com La Niña, o que não deixa de ser verdade, uma vez que há maior favorabilidade para a entrada de massas de ar frio de origem polar sobre o país, e geadas ocorrem com maior frequência em invernos sob La Niña, com maiores chances de até ocorrerem de forma tardia, já na primavera. Mas, na verdade, a temperatura passa a oscilar mais em decorrência de mais ar frio entrando. O tempo mais seco torna os extremos de temperatura, tanto os de frio quanto de calor, mais acentuados, e desta forma, ondas de calor também podem ocorrer sob La Niña. Podemos tomar como exemplo os últimos dois verões no Rio Grande do Sul, quando o tempo mais seco favoreceu temperaturas muito altas. (Climatempo)