A China possui uma demanda crescente pela soja, no entanto, em ritmo menor ao comparado com anos atrás. Na safra 2007/08, o país asiático consumia cerca de 50 milhões de toneladas do grão; já para a safra 23/24, a previsão é que o consumo seja em torno de 121 milhões de toneladas. O número de volume consumido mais que dobrou entre o período listado, o que representa um crescimento anual composto de 5,68%.
O crescimento está diretamente relacionado ao aumento populacional, aumento do poder aquisitivo da população e à mudança na matriz de consumo, tanto para consumo humano quanto animal. No entanto, mesmo com esse avanço, a taxa de crescimento composta caiu dos 5,68%, desde 2007, para 2,65% nos últimos cinco anos, indicando que o crescimento se aproxima do platô.
Atrelado a isso, em 2024, a média dos estoques (janeiro a abril) de soja na China chegaram a 7,6 milhões de toneladas, um valor recorde se retirarmos o movimento de segurança alimentar presenciado em 2021 em decorrência da Covid. Neste ano e para o mesmo período, os estoques bateram 8,1 milhões de toneladas. Apesar do crescimento no número, o volume corresponde a uma cobertura da demanda interna de apenas 23 dias de consumo.
“Isso significa que o incremento daqui para frente aponta não ser tão disruptivo como anteriormente. É importante notar que a demanda continuará existindo devido à necessidade, no entanto, com um percentual de crescimento menor”, comenta o líder do time de inteligência da Biond Agro, Felipe Jordy.
Batalha pelo envio de soja para a China
Brasil e Estados Unidos são os maiores produtores de soja do mundo, com o Brasil ocupando a primeira posição e os EUA a segunda colocação. Somadas, as nações produzem 71%, equivalente a 268 milhões de toneladas da oferta mundial da commodity. Devido a um consumo interno menor do que a produção em ambos os países, Brasil e EUA também estão entre os maiores exportadores do mundo, abastecendo 88% ou 149 milhões de toneladas da necessidade de importação mundial..
Diante disso, a China é o maior consumidor e importador global de soja. Tanto o Brasil quanto os Estados Unidos são seus maiores fornecedores; juntos somam mais de 80% do volume consumido pela China. Dada a situação, há uma disputa entre os dois países fornecedores da commodity.
“Apesar de os EUA ainda serem um grande fornecedor para a China, a guerra comercial iniciada em 2018, o crescimento da produção brasileira e a competitividade do grão brasileiro – com menor preço – vêm determinando um aumento na participação do Brasil no suprimento chinês. Em um recorte temporal, em 2014 (ano comercial), na soma das importações de ambos os países para a China, os EUA detinham uma participação de 49%, enquanto o Brasil possuía 51%. Em 2023, o Brasil fechou com 74% e os EUA com 26%. Olhando o acumulado de 2024, o Brasil já possui 64,2% e os EUA 35,8%, seguindo a tendência dos anos anteriores”, comenta Jordy.
Há vantagem no avanço brasileiro na exportação de soja para a China?
Apesar do aumento na participação de exportação de soja para a China, um alerta começa a surgir. À medida que o Brasil continua a expandir sua área e sua produção; e o maior consumidor do mundo demonstra um crescimento mais controlado, a forte dependência das exportações pode se tornar um ponto fraco para o país sul-americano.
Desde que os EUA começaram a perder participação no mercado de exportação, a soja passou a ser cada vez mais direcionada para o consumo interno, impulsionada principalmente pela mudança da sua matriz energética. A soja tornou-se a principal fonte de matéria-prima do biodiesel americano. Em uma análise temporal, em 2014, cerca de 20% da soja americana era para o Biodiesel, agora esse número já ultrapassa 30%.
“No médio e longo prazo, imagino que o Brasil também seguirá um caminho semelhante, seja pelo apelo ESG ou pela diversificação dos negócios, caso contrário, o excesso de soja poderá resultar em um forte desequilíbrio entre oferta e demanda”, finaliza o especialista. (Divulgação)
Foto: Claudio Neves/Portos do Paraná