É certo que esse ano de 2024 será realmente um ano de grandes desafios para o AGRO. Com uma colheita de soja na faixa de 20 a 30 sacas/ha e um endividamento alto é imprescindível que o produtor tenha em mente um plano concreto, uma estratégia traçada para contornar a situação.
Essa estratégia tem que contar com a participação dos profissionais que acompanharam as lavouras (agrônomos, técnicos em geral), do contador e de um advogado que seja especialista em direito agrário com vasta experiência no setor para assim permitir ao produtor:
1) Renegociar e readequar os contratos de arrendamento, parceria e similares;
2) Prorrogar em pelo menos dez anos, na forma do Manual de Crédito Rural, os contratos de custeio e de investimento oriundos de crédito oficial, com bancos e cooperativas;
3) Amortizar os contratos particulares com empresas revendedoras de insumos e rolar o saldo devedor para as próximas safras, com os encargos legais.
Essa reestruturação da atividade campesina, principalmente no tocante às dívidas, será um remédio amargo para muitos produtores das regiões castigadas pela seca/estiagem prolongada, que já se mostra uma das maiores da história, mas será um tratamento necessário. O que se pode garantir é que não há uma “solução mágica” diante deste cenário: as Recuperações Judiciais não devem ser manejadas em todos os casos indistintamente; antes, devem ser deixadas como última saída possível.
No Agro predominam as estruturas administrativas familiares, de modo que o Grupo Familiar, num primeiro momento, deverá manter a calma e se unir para escolher os profissionais que vão dar suporte para traçar a estratégia de cada família. Toda a estruturação de ativos e passivos deverá ser feita da forma mais profissional e transparente possível, para que todos tenham plena ciência do montante do endividamento e do prazo necessário para se conseguir reestruturar das atividades.
Qualquer pagamento/desembolso nesse momento deverá ser planejado minuciosamente, eis que o grupo pode precisar reter grande parte dos recursos para conseguir custear a próxima safra. O importante é ter um fôlego para se restabelecer e não ter que deixar de produzir.
Nesse momento a união do grupo familiar é muito importante: qualquer tomada de decisão tem que estar de acordo com o plano, de modo a levar a cabo o plano traçado para o soerguimento daquele núcleo familiar produtivo. Deverá haver consenso, contenção de gastos, boa vontade e coragem por parte de todos.
Contudo, a virtude principal a ser desenvolvida nesse momento é a paciência: a família poderá enfrentar processos judiciais, os custos de produção vão aumentar, o crédito permanecerá caro e escasso por um bom tempo. Mas com paciência, tudo se resolve, as coisas se ajeitam.
A calma e a paciência já estão arraigadas nos produtores mais experientes, que já passaram pelas vicissitudes da vida, sendo esta a ocasião ideal para ajudar os mais jovens a desenvolvê-las também. É o momento de todos demonstrarem a resiliência que caracteriza o produtor rural brasileiro.
O agricultor é, antes se tudo, um forte, e vai passar por mais essa prova com êxito. Tudo passa. E Deus nunca abandonou o produtor antes. Não será dessa vez.