Hoje o produtor rural conta com muita informação e tem como principal aliada a tecnologia na palma da mão. A internet faz parte da vida do homem e da mulher do campo assim como a energia elétrica e água. Máquinas com GPS ajudam a mapear o solo e ter melhor e maior aproveitamento da terra. Mas apesar de tantos recursos disponíveis ainda é um deles que faz o produtor rural pensar muito antes de plantar: a previsão do tempo.
“Será que vai chover?”. Essa ainda é a maior dúvida do produtor rural desde os primórdios até hoje em dia. Não há um dia sequer sem que essa pergunta norteie a mente do agricultor. Claro que, voltando a falar sobre tecnologia, a maioria dos smartphones oferecem o recurso “previsão do tempo” e isso já ajuda bastante. Além disso ainda há os mais diversos canais de televisão (aberta e fechada) que oferecem em sua programação essas informações.
Contudo é indiscutível que vivemos em uma época em que o aquecimento global se tornou algo concreto. Fenômenos conhecidos como o El Niño e a La Niña já fazem parte da rotina da humanidade. Tais fenômenos são responsáveis por “bagunçar” o clima em esfera global. E isso sem sombra de dúvidas, é fator que tira o sono do agricultor.
Conversamos com um profissional que trabalha diretamente com o clima, o Renã Moreira Araújo, que é Mestre em Meteorologia (UFPel) e Doutor em Produção Vegetal (UFPR). Em uma entrevista por ele falou sobre a influência do El Niño e da La Niña e também sobre o que podemos esperar para o Paraná para as próximas estações. Confira logo abaixo.
Octávio Rossi: Este ano estamos sobre a influência do El Nino, certo? Como ele influenciou na agricultura no Paraná?
Renã Moreira: O El Niño influenciou durante todo o verão (dezembro a março). Nosso verão, típico paranaense, é conhecido por ter as famosas pancadas de chuvas na parte da tarde e início da noite. Geralmente a temperatura fica acima dos 30°C mas com as chuvas a temperatura cai rapidamente, para a casa dos 24°C/25°C e refresca o dia. No entanto, este ano as pancadas de chuvas foram mais irregulares que o normal e tivemos dias muito quentes, com temperaturas atingindo os 37°C por dias consecutivos, devido as ondas de calor.Na agricultura, as chuvas irregulares de verão ajudaram alguns produtores a ter boas safras. Mas, ao mesmo tempo, a chuva não ocorrida no tempo ideal em várias propriedades e associado as altas temperaturas prejudicou o efetivo desenvolvimento da safra e foi preciso acionar o seguro rural.
Rossi: O que o agricultor pode esperar do La Niña? Ela chega forte esse ano?
Moreira: Os modelos tem previsto neutralidade de eventos El Niño Oscilação Sul (ENOS) entre abril a junho e probabilidade de La Niña em seguida. O La Niña costuma causar invernos mais secos na maior parte do Paraná. Contudo, a ocorrência do La Niña e o efeito não são simultâneos. Os efeitos demoram alguns dias e até meses para ocorrer. Por isso, podemos ter ondas de frio tardias, lá no final do inverno e começo da primavera e chuvas irregulares na primavera e verão (2024/2025), com períodos prolongados sem chuva.
Rossi: Podemos esperar meses mais frios este ano ou ainda enfrentaremos calor fora de estação? E como isso pode interferir nas culturas de inverno?
Moreira: As temperaturas no outono e início do inverno irão ser ligeiramente acima da Normal Climatológico. Já o fim do inverno poderá ocorrer a entrada de frentes frias intensas e trazer alguns dias consecutivos de temperaturas mais baixas. As safras de milho adiantadas não terão problemas em relação a temperatura, pois nos dias com maior potencial de frio intenso já estarão em fases fenológicas que geadas ou temperaturas extremas não causam influencia na produtividade. A preocupação será com plantios tardios, onde o frio do fim do inverno associado ao período mais seco, comum do nosso inverno, poderão prejudicar a produtividade.
Rossi: Há alguma forma do produtor rural se precaver para evitar perdas ocorridas pelo fator clima?
Moreira: A melhor forma é realizar um bom planejamento agrícola e segui-lo. Atualmente temos previsões estendidas, para até 6 meses, que norteiam o que pode acontecer e auxiliam o planejamento das safras. Claro que se trata de previsão e mudanças acontecem, mas não fogem muito do que é previsto. O produtor rural pode buscar consultorias de agrometeorologistas ou cooperativas que tem esse tipo de assessoria aos seus clientes. O segredo é estar “ligado” as notícias sobre tempo e clima e usar recursos tecnológicos.
Rossi: E para finalizar, o que esperar para os próximos anos falando sobre clima? Teremos verões cada vez mais quentes e invernos mais rigorosos? Ou será o contrário? Verões com dias frios e invernos com “veranicos” mais frequentes?
Moreira: O aquecimento global deixou de ser um tabu e se tornou realidade e provado cientificamente. Estamos sentindo na pele nos últimos anos. Assim, temperaturas máximas mais elevadas por dias consecutivos, períodos de estiagem em épocas de chuva e eventos extremos, como tempestades de granizos e vendavais no verão, variações elevadas de amplitudes térmicas diária e anuais, serão fenômenos que com certeza iremos presenciar e termos que nos adequar nos próximos anos.
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