segunda-feira, junho 16, 2025

Guerra no Oriente Médio e gargalos estruturais reconfiguram mercado de commodities

Com a colheita da soja já encerrada e o país avançando agora para colher o milho safrinha, o agro brasileiro se depara com um novo desafio: armazenamento e logística. Grande parte das estruturas ainda está ocupada pelos estoques da supersafra de soja, dificultando o armazenamento do milho recém-colhido. O desequilíbrio pressiona a cadeia produtiva e pode gerar efeitos em cascata até o próximo ciclo.

Além disso, para 2025/26 o cenário vai muito além das condições climáticas e da produtividade no campo, fatores geopolíticos, econômicos e institucionais devem pesar fortemente nas decisões estratégicas do setor. A escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China, o comportamento da inflação global, a escalada guerra Irã x Israel, a transição energética e a corrida eleitoral no Brasil despontam como elementos centrais para a formação de preços, o fluxo de exportações e a competitividade do agro nacional. 

Felipe Jordy, gerente de inteligência e estratégia da Biond Agro afirma: “Essa análise oferece uma leitura estratégica que vai além do curto prazo. Entender os vetores de transformação ajuda o produtor rural a se antecipar e se posicionar melhor frente a um mercado cada vez mais volátil e interligado globalmente”.

1. Geopolítica e Guerras

A relação entre EUA e China segue como uma variável crucial para o agronegócio brasileiro. Hoje, o cenário ainda é incerto. Uma possível manutenção das tarifas contra produtos chineses poderia impulsionar as compras da China no Brasil. Por outro lado, um eventual acordo entre os dois países poderia redirecionar a demanda para os norte-americanos.

Além da tensão entre as duas maiores economias do mundo, outro fator que deve entrar no radar do produtor brasileiro é o conflito entre Irã e Israel. O embate no Oriente Médio traz repercussões relevantes para o setor agrícola nacional, especialmente no que diz respeito à volatilidade dos preços internacionais do petróleo e à oferta global de fertilizantes. 

O Irã é um dos grandes fornecedores de ureia, insumo essencial para diversas culturas brasileiras. Qualquer interrupção nas exportações iranianas pode gerar escassez e elevação dos custos de produção no Brasil, além de pressionar o câmbio e aumentar os custos logísticos com a alta do barril do petróleo. Em um cenário de margens mais apertadas, esses fatores geopolíticos podem afetar diretamente o planejamento da próxima safra.

“É importante lembrar que o Brasil colheu uma safra recorde de soja em 2024/25, o que pode ampliar sua competitividade dos preços no mercado internacional. A disputa entre EUA e China, ao mesmo tempo que abre oportunidades para o agro brasileiro, também impõe riscos que não podem ser ignorados. Da mesma forma, a instabilidade no Oriente Médio, especialmente em países-chave para o fornecimento de insumos, pode comprometer o equilíbrio de custos e impactar a rentabilidade do setor”, avalia Jordy.

2. Inflação e Política Monetária

O ambiente macroeconômico começa a mostrar sinais de melhora. Ainda que o crédito agrícola siga pressionado, já não há um cenário tão tenebroso quanto meses atrás. A perspectiva atual é de uma trajetória de queda dos juros ainda neste ano, influenciada por um câmbio mais baixo, refletindo a desvalorização do dólar em meio às incertezas políticas do governo Trump. No entanto, o risco fiscal brasileiro segue no radar e pode representar um fator de pressão sobre o Real. A atenção a esses elementos continua fundamental para o planejamento financeiro dos produtores. 

“Apesar das incertezas, caso a inflação global desacelere nos próximos trimestres, há espaço para redução nos custos de insumos, o que tende a estimular a demanda e sustentar os preços agrícolas no médio prazo.

3. Clima e Risco Climático

A previsão de um cenário climático neutro para o próximo ciclo reduz o risco de extremos como secas prolongadas ou chuvas excessivas. Essa estabilidade tende a beneficiar a produtividade e a logística das lavouras. Ainda assim, os especialistas alertam para eventos localizados que podem comprometer regiões produtivas mesmo em contextos globalmente favoráveis.

4. Oferta e Demanda Global

O mercado global de grãos passa por um novo ponto de equilíbrio entre oferta e demanda. No caso da soja, os estoques seguem elevados após supersafras recentes, enquanto a demanda chinesa dá sinais de estabilização. Já no milho, o aumento de área plantada nos Estados Unidos deve contribuir para a recomposição dos estoques, ampliando a oferta global. 

No entanto, o consumo interno brasileiro, impulsionado pela indústria de etanol e pelo setor de nutrição animal, tem atuado como um fator de sustentação dos preços regionais. Ainda assim, a expectativa de estoques mais robustos, especialmente no mercado futuro de Chicago, pode exercer pressão de baixa sobre as cotações internacionais nos próximos ciclos.

5. Transição Energética

O avanço de usinas de etanol de milho no Brasil reposiciona o cereal como insumo estratégico na matriz energética nacional. Com novos projetos em implantação, o país pode se tornar o segundo maior produtor mundial desse biocombustível. A demanda interna deve crescer, reduzindo a disponibilidade para exportação.

“Estamos diante de uma mudança de paradigma na destinação do milho no Brasil, com reflexos diretos sobre oferta, preço e fluxo logístico”, explica Felipe Jordy.

6. Eleições e Política Brasileira

O pleito eleitoral em 2026 trará consigo incertezas sobre política fiscal, crédito rural, tributos e relações comerciais. Medidas populistas podem afetar o ambiente de negócios, enquanto uma eventual abertura a acordos internacionais pode abrir novos mercados para o agro brasileiro. A volatilidade do câmbio, típica de anos eleitorais, já começa a preocupar o setor.

“As eleições de 2026 terão papel central na definição do ambiente regulatório e fiscal do agronegócio. É importante que o produtor esteja atento ao comportamento dos mercados e as propostas em debate”, finaliza Jordy.

Sobre a Biond Agro

Empresa especializada em gestão e comercialização de grãos para o produtor brasileiro, originária de um grupo de companhias com 25 anos de experiência (Fyo, CRESUD e Brasil Agro). Compreendendo os números e especificidades do negócio e como interagir com os mercados. A Biond Agro desenha estratégias de comercialização e execução de negócios, profissionalizando a gestão de riscos para tornar o agronegócio sustentável no longo prazo. Saiba mais em https://www.biondagro.com/

Foto: Cláudio Neves/APPA

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