Oferta elevada e embargos internacionais pressionam o mercado interno; setor enfrenta desafios para escoar produção
O mercado brasileiro de carne de frango enfrenta uma forte pressão de baixa nos preços, resultado direto da combinação entre excesso de oferta e retração das exportações. De acordo com levantamento recente do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), os valores da proteína vêm caindo expressivamente nas últimas semanas.
O principal fator para esse cenário foi a confirmação, no início de maio, de um caso de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) em uma granja de matrizes comerciais no município de Montenegro, no Rio Grande do Sul. A notícia gerou rápida reação no mercado internacional: até agora, a União Europeia e outros 24 países suspenderam temporariamente a importação de carne de frango de todo o Brasil. Além disso, 16 países impuseram restrições especificamente às exportações oriundas do Rio Grande do Sul, enquanto dois mercados interromperam totalmente as compras provenientes de Montenegro.
Esses embargos resultaram na realocação de volumes expressivos da produção antes destinada ao exterior para o mercado doméstico, principalmente do Sul do país — região responsável por cerca de 60% da produção e mais de 70% das exportações brasileiras de carne de frango.
Segundo agentes ouvidos pelo Cepea, a entrada maciça desse excedente no mercado interno tem forçado os preços para baixo. O frango inteiro resfriado, por exemplo, está sendo comercializado, em média, entre R$ 6,00 e R$ 6,50/kg na região Sudeste, valores até 10% inferiores aos registrados há cerca de um mês.
Além disso, o momento é tradicionalmente de menor consumo. Com o fim do mês e a redução do poder de compra da população, a demanda por proteínas tende a recuar, reforçando o desequilíbrio entre oferta e procura.
O setor avícola brasileiro, que é o maior exportador mundial de carne de frango — com embarques superiores a 5 milhões de toneladas anuais —, enfrenta agora o desafio de adaptar sua logística e estratégia de vendas para minimizar os prejuízos.
Embora as autoridades sanitárias ressaltem que a carne brasileira segue segura para consumo, e que o episódio foi isolado, a recuperação do mercado pode levar algum tempo, especialmente no ambiente internacional, que costuma reagir com cautela a surtos sanitários.
Enquanto isso, o consumidor brasileiro pode encontrar preços mais acessíveis nas prateleiras, mas para a indústria, o momento é de apreensão e necessidade de reorganização para evitar maiores perdas no setor. (Com Cepea)
(Foto: Ari Dias/AEN)